Marina Manda Lembranças E stou farta da palavra esperança, repetida ad nauseam nesses tempos de mudança de ano, e de suposta pós Covid. Esp...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Esperança como, se o planeta está ameaçado pela ação do homem, e se o ser humano não muda? A ciência e a tecnologia deram um salto para a frente, mas a humanidade continua aferrada aos mesmos sentimentos que tínhamos quando pintávamos cenas de caçadas nas paredes das grutas.
Como falar em esperança se o Brasil entra agora em um ano eleitoral? E anos eleitorais são tudo menos que amenos. Devemos, ao contrário, nos preparar para enfrentamentos, discursos de ódio, fake news aos montes, cancelamentos nas redes sociais. Enfim, devemos nos preparar para receber tapas na cara metafóricos, porque anos eleitorais despertam o que há de pior no ser humano.
E quem nos garante que os tempos atuais sejam pós Covid? Se tanto podem ser classificados como tempos de pós vacina. Fui a um almoço no domingo, éramos todos entrados em anos, portanto tri-vacinados. Pudemos tirar as máscaras e nos abraçar como antigamente. Uma farra!!!
Minha sobrinha, que mora em Los Angeles, me mandou uma mensagem dizendo que a filha dela testou positivo para Covid. Uma amiga que mora em NY me telefonou e me disse que ela e o marido acabaram de ter Covid, depois de terem tomado três doses da vacina. Pelo menos, as três doses impediram que eles fossem hospitalizados, os dois tiveram sintomas leves e se recuperaram, sem sequelas, em pouco mais de duas semanas.
Difícil alimentar a esperança se na quarta-feira os USA bateram um record registrando mais de 1 milhão de casos em 24 horas.
Um amigo meu de longa, longuíssima data, me telefonou contando que, tendo uma gripe horrenda foi a um laboratório fazer teste de Covid e de influenza. “O pessoal do staff foi simpático a animador (...) me disseram: a gripe está pior do que a Covid. O pior é se o senhor estiver com as duas. Todo mundo está dando positivo para Covid e gripe. E isso é bem pior”.
Esta dupla infecção já esta sendo chamada de “flurona”, e intriga os epidemiologistas, que ainda precisam verificar se uma pessoa infectada pelos dois vírus tem um quadro de saúde piorado.
Como podemos ter esperança se a nova cepa Ômicrom escapa das malhas da vacina e, por isso, está se espalhando no mundo bem mais rapidamente que sua companheira a variante Delta?
Como é possível ter esperança se o Planalto faz de tudo para atrasar a vacinação das crianças de 5 a 11 anos, aliado ao Ministro da Saúde que convocou uma consulta popular inútil, porque nunca antes realizada para aplicação de qualquer vacina, e muito custosa?
Como ter esperança se, no Brasil, há uma semana a média móvel de casos de Covid havia mais do que dobrado em relação aos 15 dias anteriores, enquanto o vírus da influenza avançava?
Como podemos ter esperança se a manchete de ontem era: “COMBATE NO ESCURO Apagão de dados dificulta gestão de crise de Covid e gripe”?
Como é possível ter esperança se 2021 teve inflação acumulada de 17,78%, e se a bandeira que comanda o custo da energia elétrica continua vermelha?
Como ter esperança se a desigualdade social, que em 2020 colocava o Brasil na oitava pior posição superando apenas nações africanas, piorou sensivelmente com a pandemia do coronavírus?
E, finalmente, como podemos ter esperança se o presidente da república se diverte nas férias, anda de jet ski, visita um parque de diversões, joga na mega da virada, enquanto a Bahia alagada registra 26 mortos, 518 feridos e 93 mil desabrigados?