Marina Manda Lembranças D eixo os recortes para voltar à realidade. E a realidade pode ser muito dura. Em apenas 72 horas quatro mulheres fo...
Marina Manda Lembranças
Em apenas 72 horas quatro mulheres foram assassinadas no estado do Rio, por seus maridos, seus companheiros, ou homens com quem se relacionavam sexualmente.
A primeira vítima se chamava Milênia e tinha apenas 21 anos. Foi morta pelo companheiro – cujo nome não digo para não dar destaque a um assassino – na comunidade Cidade de Deus. Provavelmente foi morta a tiros porque a PF suspeita que o companheiro dela pertença a um grupo de traficantes. O companheiro de Milênia disse que brigou com ela depois de voltar de uma festa. Parece impossível que voltando de uma festa não estivesse bêbado.
A segunda vítima, cujo nome desconheço, foi encontrada morta em Macaé dentro da geladeira. Ela e seus tios haviam sido assassinados a marretadas. O autor do triplo crime foi o marido dela, que se enforcou num quarto de motel.
A terceira vítima se chamava Marcelle e era cuidadora de pessoas idosas. Foi assassinada em Mury, justamente na estrada do Sítio Azul onde tenho a minha casa de montanha. Marcelle demorou a chegar no Sítio, ela sempre tão pontual, e os amigos saíram para procurá-la. A encontram morta a facadas, dentro do carro incendiado. O principal suspeito é o ex companheiro.
Meu caseiro me disse que a conhecia e que era muito simpática. Quando se cruzavam, ele indo cuidar do meu sítio e ela indo cuidar de uma idosa, ela buzinava e os dois se davam tchau à distância. Marcelle era amiga da filha do caseiro.
Uma testemunha disse que viu ela e seu ex companheiro brigando no carro.
A quarta vítima se chamava Flávia e era designer. Foi achada morta dentro da sua caminhonete capotada. Tinha três tiros na cabeça e no pescoço. O principal suspeito é um caminhoneiro com que Flávia se relacionava há dez meses. Depois do assassinato o caminhoneiro invadiu a casa da Flávia, roubou alguns pertences, e fugiu com uma motocicleta.
Até onde sei, o Brasil ocupava o quinto lugar em feminicídios no mundo.
Só em 2020 aconteceram 68 feminicídios do estado do rio.
E em 2020 uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 7 horas, no Brasil.
Quanto à violência, que algumas vezes antecede o feminicídio, em 2020, 17 milhões de mulheres sofreram algum tipo de violência, seja física, psicológica ou sexual, de acordo com pesquisa do Datafolha encomendada pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
Faço questão de repetir: 17 milhões!
Segundo esses novos dados, uma mulher em cada quatro, acima dos 16 anos, declarou ter sofrido algum tipo de violência.
A violência doméstica entre um homem e uma mulher é a mais sutil, sobretudo quando a mulher, amparada por equivocados conceitos de amor, esconde os ataques do homem que está convencida de amar. O homem depois dos ataques de fúria, depois dos tapas, socos e chutes pede perdão e alguns chegam a chorar. A mulher acredita – precisa acreditar para manter o seu amor vivo – que seja um arrependimento sincero e que tudo o que o homem promete será cumprido. Vã ilusão.
Pode demorar uma semana ou um mês, e o homem terá novo ataque de fúria, insultará a mulher, lhe dará tapas e socos.
Esse tipo de violência doméstica está magnificamente retratado no casal Stephany e Roney, na novela “Um Lugar Ao Sol” de Lícia Manzo.
Para finalizar devo dizer que acho uma excelente ideia fazer uma cruz de batom na palma de mão e mostrá-la a quem estiver atendendo numa farmácia. Toda mulher tem um batom, e toda mulher sabe inventar uma desculpa para ir à farmácia. Diga que precisa comprar absorventes. E muitos homens não quererão entrar.