Marina Manda Lembranças E stou me separando, muito a contragosto devo confessar, de recortes de jornal antigos, cuja única finalidade era me...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Acabei de ler um, entusiasmante, que transfiro para este espaço.
O recorte é de 2009, e a manchete é: “Os fantasmas do deserto”.
Naquele começo de ano uma equipe científica comandada pelos gêmeos italianos Angelo e Alfredo Castiglioni, da qual participava o geólogo egípcio Ali Barakat, anunciou ter achado vestígios de um exército de 50 mil homens, enterrado há 25 séculos por uma tempestade de areia que tragou soldados, cavalos, camelos, armas e estandartes.
Era o exército enviado no ano 525 a.C. pelo rei persa Cambises II para subjugar os habitantes do Oásis de Siwa onde morava o mais célebre oráculo do mundo antigo (diz o jornal: “o mesmo que dois séculos depois designaria Alexandre o Grande filho do deus Amón e legitimaria suas conquistas” ). Pudera que fosse célebre esse oráculo imortal!
Achar, ainda que fosse parte, desse grandioso exército soterrado em algum ponto do deserto do Saara, seria uma grande conquista arqueológica e repercutiria no mundo todo.
Mais importante que a descoberta, por camponeses chineses, de um exército de esculturas de terracota destinado a proteger, na segunda vida, o imperador Qin Shi Huang. Porque aquelas eram esculturas – embora fossem mais antigas, pois o imperador reinou a partir de 210 a.C – e esses eram esqueletos de seres humanos.
O historiador grego Heródoto escreveu, referindo-se ao episódio: “Um vento sul, extremamente violento, se lançou sobre os persas enquanto almoçavam, arrastando redemoinhos de areia e os sepultando.” Como Heródoto podia saber, tantos séculos depois, que estavam almoçando é um dos tantos mistérios da história. Provavelmente quis dizer que estavam em repouso e por isso não se abrigaram.
O vento sul é chamado qibli e pode soprar ininterrupto durante diversos dias.
O material encontrado pelos gêmeos e por sua equipe são objetos pequenos, pontas de flechas, uma pulseira de prata, e um pendente de confecção persa, justamente da época em que reinou Cambises. Estes objetos foram achados em diferentes expedições realizadas durante 13 anos.
Os pesquisadores também escavaram em outra região, sempre no Saara. Ali encontraram vasilhames e encontraram diversos esqueletos humanos, misturados a ossos de cavalo e a pontas de flechas de indiscutível confecção persa.
Nunca mais ouvi falar dessa história extraordinária, nem li notícias a respeito na imprensa.
Vamos supor que fosse verdade. Que magnífico filme daria! Me arrisco a fazer uma sinopse. Escolheria Leonardo DiCaprio para interpretar os dois gêmeos – univitelinos, é claro, para acrescentar mais emoção. Mostraria Leonardo envelhecendo ao longo de mais de 13 anos, porque no intervalo entre cada expedição há vários anos de pausa, para encontrar empresas ou governos dispostos a patrocinar o material custoso, o transporte e hospedagem da equipe, enfim a bancar todos os custos de uma expedição arqueológica.
Mostraria Leonardo, na pele de duas pessoas idênticas, fracassando, fracassando e fracassando em todas as tentativas. Para só ao final mostra-lo vitorioso desencavando das dunas os restos do exercito de 50 mil homens, de seus cavalos e camelos, de suas armas e de seus estandartes esfarrapados.
Leonardo DiCarpio era até capaz da ganhar o Oscar por sua interpretação dos dois gêmeos.