Marina Manda Lembranças N a última sexta-feira participei da inauguração da LER – 4º edição do Festival Leitor – na Cidade das Artes. Foi um...
Marina Manda Lembranças
Gostei muito de reencontrar Glória Maria que há muito não via e que, nessa mesa, trabalhava como debatedora. Vocês podem não acreditar, mas quando leu a ficha biográfica de Mia Couto disse que ele era um ativista pelos direitos dos animais, e os amava tanto que havia adotado como nome artístico Mia, o som que emite um gato. Do outro lado do mundo, o Mia acenou com a cabeça.
O tema da mesa era "Conversas em nossa língua". Eu, que era a única que não havia nascido falando português, disse que tinha duas língua maternas e que pensava, indiferentemente, numa ou na outra, mas que só contava em italiano. E quando Glória Maria me perguntou como foi aprender português respondi que foi muito divertido. Apesar de meu pai ter contratado um velho professor, tão velho que nos contou que quando criança ia para a escola a cavalo dos ombros de um escravo liberto. Imagina falar de um escravo – ainda que liberto – para dois irmãos europeus! Encheu nossa alma de fantasias.
Acabamos aprendendo português com um tio que sofria de hérnia de disco e era obrigado a ficar o dia inteiro deitado. Este tio mandava o chofer comprar todas as revistas em quadrinhos que houvesse na banca e meu irmão e eu, deitados um de cada lado, ele ia traduzindo em italiano, enquanto nós liamos em português o que estava escrito nos balões.
Foi um método muito interessante de assimilar outra língua.
Chega de falar de mim! Comecei essa crônica para falar da LER e me perdi no meio do caminho.
Antes de ontem havia 20 mil crianças no Pier Mauá, correspondendo a uma mini Bienal. A LER tem 15 palcos e espera atender 150 mil pessoas, da última segunda-feira até o próximo domingo.
Haverá também encontros de educadores com diferentes oficinas. E educadores assistirão a palestras sobre literatura, e sobre a interlocução com a educação e as outras linguagens.
No sábado, uma exceção. No Maracanazinho, em lugar do Pier Mauá, vai acontecer o encontro com Chimamanda Ngozi Adichie com mediação de Djamila Ribeiro. O tema será, "Contando histórias para empoderar e humanizar".
A LER está trabalhando com visitas às escolas, sejam elas públicas ou privadas, da primeira infância até o ensino médio. Um evento criado para plantar o hábito da leitura desde a infância e, quando o hábito da leitura é bem plantado, sua raízes afundam na escuridão do ser e ali se mantêm vida afora.
O público terá acesso a oficinas de criação literária, saraus, leituras e declamação de poesias, peças teatrais, exposições. Tudo isso e mais, conversas com escritores de todas as raízes, dos best sellers, aos livros de vanguarda, dos romances, aos livros de autoajuda.
Estarão presentes Ilustradores de quadrinhos, atores, como Zélia Duncan, escritores como Daniel Munduruku, roteiristas como Karen Acioly, cantores como Fagner e Lenine, e ilustradores como Mariana Massarani. Enfim, um mudo de gente para você admirar e se aproximar do infinito universo da leitura.