Marina Manda Lembranças T odo dia, quando tomo banho, ouço a rádio MEC, e tenho ânsias de vômito cada vez que escuto o slogan “Pátria amada,...
Marina Manda Lembranças
Como pode a população brasileira amar a pátria que a deixa ao Deus dará? Sem educação eficiente, sem saúde idem, com a inflação nos cornos da lua. Tendo que lidar com racismo e com a desigualdade social.
O slogan foi bolado por algum publicitário do Planalto, mas imagino que seja caro ao presidente Bolsonaro que se desfaz em patriotadas. Atenção, patriotadas é o oposto de patriotismo. O capetão tem alma mesquinha demais, alma sem empatia, para alimentar sentimentos patrióticos.
Como pode a população amar a pátria, quando 33 milhões de brasileiros estão passando fome. E pessoas esperam caminhões com descarte de ossos e pelancas para levar um osso para casa e cozinha-lo com macarrão.
E outras pessoas juntam restos de legumes e frutas na feira, eliminados pelos feirantes, para alimentar a família.
Crianças e velhos são os mais afetados pela crise que tem roubado a comida do prato. No Estado do Rio, a Secretaria de Saúde aponta para o baixo peso de meninas e meninos até 10 anos, que sinaliza desnutrição.
Já na cidade do Rio, um terço das favelas controladas pela milícia tem venda de drogas, e todas, quer as controladas por milicianos, quer as controladas por traficantes cobram serviços, como internet e TV a cabo, cobram pedágio ou uma taxa diária para mototaxistas, e cobram segurança, mais baratas para famílias, mais caras, bem mais, para comerciantes.
Como pode a população amar a pátria, quando grande parte dos municípios não têm água tratada, nem esgoto. Quando a orla marítima, as baías, as lagoas e a beira dos rios estão inundadas de garrafas pet, de móveis descartados, de lixo e de espuma marrom prá lá de suspeita.
Como pode... se ainda hoje o investimento por aluno na educação básica é menos da metade daquele aplicado por países da Europa. Se algumas escolas públicas não têm banheiro, as que têm não têm água na torneira e não têm papel higiênico.
As universidade federais têm orçamentos insuficientes, e a UFRJ no Fundão está com as estruturas comprometidas e sendo sustentada por vigas de madeira.
A sociedade perdeu a confiança no ministério da Educação depois que Bolsonaro trocou de ministro pela terceira vez e se descobriu que, o agora ex ministro, Milton Ribeiro acobertava dois pastores corruptos, por interesses pessoais.
A princípio Jair Messias disse que botava a cara no fogo por ele. Quando ele foi preso, mudou de tom. E agora voltou a defende-lo mais uma vez. Disse que, na sua opinião, não há indícios mínimos de corrupção e que ele ‘foi preso injustamente’.
Como pode a sociedade amar a pátria se a população abaixo da linha de pobreza, disparou, e as calçadas das grandes cidades estão cheias de pessoas, seres humanos que têm direito à proteção, dormindo envoltas em cobertores finos demais para aquece-los nesses dias frios.
Dormem não por estarem bêbados – alguns certamente estão – mas por não poderem dormir à noite, quando precisam se defender de outros moradores de rua, que aproveitam o escuro para ataca-los e roubar o pouco que conseguiram amealhar. Por isso alguns possuem cachorros, para avisá-los do ataque.
Como pode... se a maioria dos brasileiros se declara negra ou parda nas pesquisas e, como diz o escritor Laurentino Gomes, o Brasil “teima em recusar sua identidade africana. É como se a África corrompesse nosso sangue, nossa índole, nosso caráter, nos tornasse menos do que poderíamos ser”.