Marina Manda Lembranças F az muitos anos ganhei de presente uma coletânea de contos organizada por Maria Tatar. Preciso explicar quem é ela:...
Marina Manda Lembranças
O livro que ganhei de presente é intitulado “A bela e a fera”, mas é muito mais do que isso. O subtítulo prossegue e nos dá a verdadeira intenção de Tatar: “Histórias clássicas, do mundo todo, de esposas e maridos animais”.
Começa com o mito de Zeus e Europa. Zeus assume a identidade de touro porque está apaixonado pela bela Europa, e teme que sua esposa o descubra. Pretende abduzir Europa e o consegue, porque ela monta em seu dorso e é levada por ele à ilha de Creta.
Continua com o mito da Roma Antiga, Cupido e Psique. Porque Cupido tem asas, como um pássaro, e não deixa de ser um noivo animal.
Segue com uma fábula extraída do Panchatantra, “A moça que casou com uma serpente”. O Panchatantra é um conjunto de cinco livros de sabedoria, escrito em sânscrito, entre o quarto e sexto século a.C. São fábulas de bichos.
Vai adiante com o conto “Hasan de Barsa” que narra a história de um jovem, Hasan, que se casa com uma moça que é filha do Rei dos Jinn, e que tem um traje de penas de pássaros. E, com esse traje, ela voa. A história acaba com ela vestindo o traje e voando de volta para seu reino encantado, com os três filhos que teve com Hasan nos braços.
E chegamos à “Bela e a Fera”. Essa história foi escrita duas vezes, por duas escritoras. Influenciada pelo longo romance de Madame Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, a prosa condensada de Madame de Beaumont chegou a dominar o mundo literário de Paris. O que o conto narra, todo mundo sabe, já que a história é uma das mais conhecidas.
Acabei de ver uma das versões cinematográficas geradas pelo conto e confesso que não gostei, apesar da presença de Vincent Cassel interpretando a Fera. Introduziram muitos elementos ausentes na história, como se o amor e a compaixão da Bela por uma criatura monstruosa, não fossem suficientes para preencher o filme. E tem mais que isso no conto, o pai arrancando a rosa da roseira favorita da Fera, porque prometeu à filha (testemunho da modéstia de Bela) levar-lhe uma rosa de presente, voltando de longa viagem. E a viagem até o castelo da Fera, da única das três filhas dispostas a se sacrificar pelo pai.
E seguimos viagem pelo livro de Maria Tatar com o conto norueguês “Leste do Sol e oeste da Lua”. A história pode ser resumida da seguinte forma: um pai fazendeiro e pobretão que não tem dinheiro para comprar comida para seus outros filhos, vende sua linda filha por uma quantia incrível a um enorme urso branco; à noite a filha vê um homem enfiar-se na sua cama, como está muito escuro no quarto não consegue vislumbrar o seu rosto; é o urso, que foi enfeitiçado pela madrasta, e só à noite consegue voltar a ser príncipe; acontece uma série de peripécias como a repetida busca do palácio a leste do sol e oeste da lua. E, ao final do conto, a linda filha do fazendeiro casa-se com o príncipe e “foram felizes para sempre”.
O livro prossegue com um conto extraído de “As aprazíveis noites” de Straparola, mais conhecido no Brasil como Boccaccio. A história conta que um casal real que não conseguia ter filhos concebe afinal um bebê com semblante de porco que terá que se casar três vezes com mulheres diferentes, para assumir sua nova identidade humana. Sucedem reviravoltas, e afinal Meldina, a última das irmãs com que o porco se casou, concebe um filho com o príncipe, de aparência humana.
Temos mais um príncipe sapo, umas donzelas cisnes, uma princesa rã, um condor e uma pastora, e um príncipe papagaio. E seguem-se uma infinidade de moças e de rapazes que se casam com humanos em pele de animais.