Marina Manda Lembranças A proveitei o feriado de Corpus Christi para viajar, com minha filha e meu neto, para nossa casa de montanha onde, h...
Marina Manda Lembranças
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Beleza suprema, as cerejeiras estavam em flor.
Os beija-flores e passarinhos azuis, dos quais desconheço o nome, faziam uma farra, uns sorvendo o caldo adocicado no miolo das flores, outros varando o cor de rosa e pousando para descansar em qualquer galho. Meu neto não parava de exclamar entusiasmado, “passarinho”, “passarinho”. Era uma alegria contagiante.
Estava muito frio – a casa fica a 2.050 metros de altitude – fato que muito amamos, pois nos serviu de justificativa para acender a lareira. Na casa existem duas lareiras, uma na sala e outra no nosso quarto, mais uma estufinha para esquentar a sala de jantar. Aquecemos a cozinha ligando o forno para assar trutas defumadas, que nos surpreenderam pela delícia.
Além das cerejeiras estava em flor uma árvore que, não sei porque, relaciono com a quaresma. Deve ser porque é tempo de floração das quaresmeiras. Quando passo na minha rua vejo uma quaresma com suas flores roxas, cheia de botões.
Quando minha filha Alessandra, vai com seu filhote Nuno e com amigos, para essa casa, faz a felicidade do meu neto. Se esbalda correndo pelo gramado, se encanta diante da lareira acesa.
Na semana passada queria ajudar a mãe a sobrepor toras na lareira, alternadas com folhas de jornal. Pegou uma madeira pesada para ele, que tem só dois anos. E quando a mãe disse “não”, com firmeza, se apropriou de um feixe de gravetos.
Nuno aproveitou para aprender a subir a escada em caracol que leva ao meu quarto. Eu o ajudei na subida, ficando atrás dele caso caísse. Mas a mãe o buscou na descida, porque eu não tinha posição para acolhê-lo caso desabasse.
Aproveito para contar que compramos a casa quando Alessandra tinha a mesma idade que nosso neto tem hoje. A primeira coisa que fiz, foi construir um quarto gigante para minhas duas filhas poderem trazer amigas, e brincarem protegidas quando o dia estivesse chuvoso.
A segunda coisa, foi tratar de uma mínima decoração. Como não tínhamos dinheiro, pois havíamos empenhado todas as nossas economias na compra da casa, inventei “Uma Casa Feita Em Casa”, artigo que escrevi para a revista Nova. Tinha muitos retalhos de tecidos, pois costurava as minhas roupas e as das duas filhas, e fiz um falso pacht-work emendando os retalhos – todos eles cortados do mesmo tamanho – para forrar camas, mesa e couch.
Depois empapelei uma parede do nosso quarto e desencavei, num ferro velho, a balaustrada antiga, que pintei de verde e transformei na cabeceira da nossa cama.
Só então sosseguei. Mas por pouco tempo.
Passado este tempo, desandei a fazer obras, quando o nosso dinheiro permitia.
Primeiro encomendei uma laje, que fez as vezes de terraço, para aumentar a sala, cujas janelas davam para uma pirambeira.
Em seguida fiz uma extensão da sala de jantar que era mínima, apertada entre três paredes, e acabou ficando toda envidraçada.
Mas a joia da coroa demorou a chegar, foi preciso economizar e ter a ousadia suficiente para executar essa ideia.
Finalmente juntei a ousadia necessária para construir um segundo andar, contratei um chefe de obra e pedi que transformasse um sonho em realidade.
Resultou um loft espaçoso onde instalei a lareira de que falei acima, nosso quarto, nosso escritório, nosso banheiro. E, por último, a escada em caracol que Nuno aprendeu a escalar na semana passada.