Marina Manda Lembranças D ei de cara na internet com um artigo assinado por duas mulheres, que presumo sejam professoras, Ana Paula Goulart ...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Quando recebi o convite para ser a primeira repórter desse suplemento cultural, a primeira coisa que fiz foi entrar para um curso que ensinava a datilografar. Nem datilografar eu sabia, quanto mais, entrevistar.
Quando encontro um Lulu da Pomerânia, brinco que esse cachorrinho mimoso foi meu primeiro entrevistado. Os editores do CadernoB que, quando atraquei meu barco, eram Claúdio Mello e Souza, e Yllen Kerr os dois pilotando juntos, mandaram-me cobrir um desfile canino. E foi assim que um texto meu ganhou elogios do editor da Geral, Carlos Lemos, porque comparava as patas do Lulu a mínimos tacos de golfe.
Naquele tempo o CadernoB ocupava a sala do Esporte o que nos obrigava, por vezes, a sair porque o pessoal do Esporte chegava mais cedo. Quando nos transferimos para a sala do copidesque, que dava frente para a avenida Rio Branco, podíamos ficar à vontade porque os redatores só começavam a chegar às seis horas. Lembro que eu ficava esperando Zózimo e fechava a coluna dele, porque lhe dava carona no meu Volkswagen, que íamos buscar num estacionamento perto da Praça XV.
Quando nos mudamos para a sala do copi o editor do suplemento cultural era outro, Nonato Masson. Começava no CadernoB uma série de reportagens, matérias e fotos sobre cangaço e, sobretudo, sobre Lampião e Maria Bonita, o casal de cangaceiros mais notório.
Masson tinha vocação de colecionador. Não só colecionava fotos dos cangaceiros célebres, como colecionava matérias de desastres de aviação.
Quando a editoria passou para Paulo Afonso Grisolli, o CadernoB passou a publicar matérias sobre teatro. As peças que estreavam, entrevistas com atores. Grisolli era homem de teatro, além de jornalista. Havia sido diretor de várias peças, e havia escrito algumas.
Quando adentrei na redação a mudança já havia acontecido. Por corajosa decisão da Condessa Pereira Carneiro, que havia herdado do marido um jornal de pequenos anúncios e o transformou – graças à ajuda de Reinaldo Jardim e Jânio de Freitas – em um jornal moderno e essencial.
Portanto fiz parte de uma redação clean, bem de acordo com meu senso estético apurado, pois havia começado a frequentar museus aos dez anos – antes disso estavam fechados por causa da Segunda Guerra.
Quem não estivesse lendo o CadernoB na praia, no fim de semana, estava por fora de tudo, das estreias, dos filmes, das festas, dos acontecimentos, das gírias que – como acontece hoje – não paravam de ser substituídas por gírias novas, dos bochichos, enfim, de tudo.
Quando nos mudamos para a Avenida Brasil, a modernidade era outra. Cada sala tinha uma cor diferente. A sala que foi atribuída ao CadernoB era de cor chartreuse. Soubemos das cores antes da mudança, mas ninguém sabia no JB que cor correspondia a chartreuse. Tivemos que nos mudar para ver que chartreuse era um modesto verde claro.
Na Avenida Brasil, tudo era moderno. As luminárias, que dr. Brito, genro da Condessa, havia feito questão de importar da Itália eram moderníssimas, a estrutura do novo JB, para a qual dr. Brito havia feito questão de contratar um arquiteto importante, era hiper moderna.
Quando passava pela mole do antigo JB sentia saudade. Embora não tivesse sido tão feliz ali como na avenida Rio Branco, com palmeirinhas na entrada e vidros jateados na redação.