Marina Manda Lembranças S emana passada fui jantar na casa de uma amiga para celebrar o aniversário dela. Algumas convidadas já estavam sent...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Algumas convidadas já estavam sentadas no sofá quando cheguei, embora minha impecável pontualidade. Outras foram chegando enquanto comíamos lambisquetes e tomávamos vinho.
Acabou que éramos seis, todas íntimas menos uma, que só era íntima da dona da casa, vizinha dela naquele prédio, e que nos foi apresentada à medida que chegávamos.
Cinco mulheres que se conheciam há muitos anos e uma, que logo se tornou amiga de infância das outras cinco, sentadas ao redor da grande mesa de jantar, para comemorar a passagem de uma idade a outra da dona da casa.
Conheci a aniversariante na redação do Jornal do Brasil, pouco depois dela ter dado a luz à filha dela – presente no jantar de que estou falando, portanto prá lá de adulta – a quem fui apresentada pela mãe ainda no berço e de fraldas.
Uma das convidadas conheci quando minha primogênita ia brincar com os filhos dela, os três crianças pequenas.
Seis mulheres ao redor de uma mesa falam muito. Os homens têm razão. Infelizmente – ou felizmente, porque a conversa se tornou mais fraterna – não havia nenhum homem para ouvir as coisas inteligentes que dissemos.
Entre garfadas de bife à milanesa grandes como jamantas, batatas fritas, e generosos goles de vinho tinto e branco, falamos de política, mais de política que de outras coisas.
Comentamos a demissão do agora ex ministro Milton Ribeiro depois que a imprensa revelou as maracutaias dos dois pastores, frequentadores assíduos do gabinete de Jair Bolsonaro, que pediam para os prefeitos dos municípios que eles “ajudavam”, dirigindo verbas do FNDE, que comprassem uma quantidade extorsiva de bíblias, algumas com o retrato do prefeito na primeira página. Um dos pastores, não lembro qual deles pois na minha lembrança os dois se confundem, pediu propina em barras de ouro, ajudando sem saber, ou sabendo bem, o garimpo ilegal.
Comentamos os abraços intencionais, de Pedro Guimarães, ex presidente da Caixa. Que aproveitava as fotos que tirava com funcionárias do banco, para apalpar as nádegas de uma, aproveitar o abraço para acariciar o seio da outra, enfim, projetos eróticos. Não comentamos a carta de demissão de Guimarães, porque nos pareceu supérflua, ele declarando-se inocente e demitindo-se para provar na justiça a lisura de seu comportamento.
O vice presidente da Caixa também foi ejetado depois de denúncias de funcionárias do banco de assedio sexual e moral.
E agora um terceiro importante funcionário foi defenestrado pelos mesmos motivos.
Só não comentamos a nota que dizia: “Durante o governo Bolsonaro, um motorista da Caixa Econômica foi demitido por ter comentado o que ouviu no carro em que havia transportado Pedro Guimarães, presidente do banco. Guimarães teria narrado proezas da noite anterior”, porque Elio Gaspari ainda não a havia publicado.
Falamos muito do escândalo das medalhas da Biblioteca Nacional. Uma delas foi atribuída ao ex PM e atualmente deputado federal Daniel Silveira. Daniel havia sido condenado pelo STF a oito anos e nove meses de cadeia, por insultar ministros da Corte, mas um indulto presidencial o livrou das grades.
200 medalhas seriam distribuídas a personalidades por conta do bicentenário da Independência. Duvido muito que existam 200 intelectuais relevantes. O que parecia uma boa ideia a quem, na BN, organizou a cerimônia, reduziu a fumaça o valor de cada medalha.