Marina Manda Lembranças S emana passada vi, pela enésima vez, “... E o vento levou”. Quando estávamos em Moscou, em agosto de 91, vínhamos v...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Quando estávamos em Moscou, em agosto de 91, vínhamos voltando das barricadas excitados rumo à Embaixada do Brasil onde escreveríamos nossas matérias para manda-las aos respectivos jornais (Affonso já havia sido contratado pelo Globo e eu continuava fiel ao JB). Depois, quando já no nosso hotel, ligamos a TV e percebemos que estava censurada porque, em vez das notícias sensacionais dos últimos dias, passava “... E o vento levou”.
Lembrei desse episódio na semana passada, ao ver o filme.
Guardei na memória da cena inesquecível de Scarlett O’Hara, ou seja Vivien Leigh, vestida de amarelo – para se destacar na multidão de feridos e mortos – à procura de seu amado Ashley Wilkes, entre trilhos de trem, no que parece ser o pátio de uma estação ferroviária.
Deve ter sido filmada com uma grua imensa, para ser vista do alto. Porque, em 1939, ano do filme dirigido por Victor Fleming, não existiam drones como o que foi utilizado na novela Pantanal, em cena ainda não exibida, da morte do Tenório atravessado por uma lança empunhada por Alcides e arrastado para o fundo do rio por uma sucuri.
Passados tantos anos, não sei onde li que Clark Gable tinha um hálito nauseabundo. Pensei nisso cada vez que vi Vivien Leigh beijar Gable. Deve ser nojento beijar alguém com mau hálito.
Olivia de Havilland, tão meiga interpretando Melanie, brigou a vida inteira com sua irmã, também atriz, Joan Fontaine. Na infância, Olivia rasgava as roupas da irmã para que Joan fosse obrigada a costura-las. A briga só acabaria com a morte de Joan aos 96 anos, mas Olivia seria vencedora mais uma vez porque só morreu depois de completar 104 anos.
Quero falar da cena em que Scarlett arranca as cortinas de veludo verde, para seduzir Rhett Butler, mostrando-se bonita como no passado. Não se sabe se quem fez o vestido e o chapéu sofisticado foi a Mamy, ou uma costureira. Seguramente não foi Scarlett, que não tem cara de segurar uma agulha, quanto mais, costurar.
Há um erro nesta cena. Depois de muitos anos penduradas na mansão destroçada (a Guerra de Secessão começou em 1861 e durou quatro anos) não é possível que o veludo verde não tivesse desbotado. Rhett flagra as mãos cheias de calos pelo trabalho na lavoura. Mas Scarlett está lindona, como se tivesse acabado de comprar o vestido e o mimoso chapéu.
O produtor David O’Selznick comprou os direitos do livro com o mesmo título, para realizar o filme.
Margaret Mitchell, a autora, escreveu um único romance, esse. Mas em 1937, “... E o vento levou” recebeu o prêmio Pulitzer, e os direitos autorais a tornaram rica, porque o livro foi best-seller desde a primeira edição.
Mitchell nasceu em 1900, em Atlanta, portanto no Sul dos Estados Unidos onde a guerra entre Norte e Sul começou, e cresceu ouvindo histórias da Guerra de Secessão por parentes e por veteranos confederados.
Morreu aos 48 anos, atropelada por um taxi quando atravessava a rua diante da sua casa.
A riqueza foi o que a levou a parar de escrever. Dedicada a obras sociais desde jovem, decidiu se envolver a fundo nas obras sociais, e deixar de ser a escritora admirada por multidões.
Mas, em 1939, na pré-estreia do filme extraído do seu livro, Margaret Mitchell estava sentada na primeira fila.