Marina Manda Lembranças O papel destinado à impressão de livros mudou. Antes usava-se o pólen soft, cor de creme e suave ao toque. Foi subs...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Antes usava-se o pólen soft, cor de creme e suave ao toque. Foi substituído por pólen natural, mais acinzentado e um pouco mais áspero.
A verdade é que não foi um truque das editoras para baratear o custo de produção. A Suzano Papel e Celulose deixou de produzir o papel pólen soft.
Segundo a Suzano, o papel pólen natural é mais ecológico, reduz a emissão de carbono, o consumo de água, energia e recursos minerais.
O papel foi descoberto na China por volta do ano 105 d.C. Misturando trapos de tecido e cascas de árvores os chineses conseguiram folhas de papel. Depois de molhada a massa era sovada e posta a secar numa peneira, e no fundo da peneira estava o papel. Os chineses usaram a descoberta só para eles por quase 600 anos.
Os árabes descobriram a técnica e a espalharam pela Península Ibérica quando a conquistaram, cerca do ano 1300.
Atualmente, grande parte do papel é feita graças ao tronco de árvores plantadas. No Brasil a preferida é eucalipto onde tudo é aproveitado e porque cresce rápido. Me lembro que quando fui à Suzano fazer uma conferência, passei por quilômetros de bosques de eucaliptos plantados em linha reta, e me comovi vendo caminhões compridos levando árvores mortas. Perguntei a mim mesma, se os eucaliptos ao redor, lamentavam o desaparecimento dos vizinhos e se sabiam que aquele seria o seu fim, transportados por um caminhão com folhas, que antes haviam acariciado o céu, agora arrastadas pelo chão.
Meus amigos, os irmãos Marcos da Veiga Pereira e Mateus sócios fundadores da editora Sextante afirmam que o custo do papel subiu 65% desde 2019. Mas este custo varia.
Acredito que a Companhia das Letras só use papel pólen soft nos livros que publica. Pelo menos é pólen soft o livro que estou lendo agora de Jorge Amado “A morte e a morte de Quincas Berro Dágua”. A tradução que fiz de Pinóquio, da Companhia das Letrinhas, não é pólen soft, mas isso pode ser explicado porque criança não repara no papel, se entusiasma com a história.
No Painel do Varejo de Livros, de acordo com a pesquisa do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) os livros ficaram 3,6% mais caros nos primeiros sete meses deste ano.
É uma tragédia para o Brasil. Enquanto tentamos transformar em leitores mais jovens e crianças, o preço do livro aumenta.
Só há uma solução. Fundar mais bibliotecas comunitárias e comprometer empresas para manter o acervo sempre em dia, com as últimas publicações. Porque não dá para transformar um jovem em leitor sem saciar sua curiosidade, e a curiosidade se acende cada vez que o jovem passa diante da vitrina de uma livraria.
Fui fazer uma palestra na Biblioteca Municipal João do Rio e achei o acervo atual, muito bem arrumado, fácil para achar os livros. O mesmo quando fui conversar com as crianças do Solar Meninos de Luz, que vai comemorar 39 anos de existência em dezembro deste ano. O Solar foi fundado por uma mulher, Iolanda Maltaroli, a pedido das famílias da comunidade Cantagalo-Pavão-Pavãozinho que precisavam de uma creche onde entregar as crianças, para as mães poderem trabalhar.
Hoje abriga 430 alunos do Berçário ao Ensino Médio, com cultura – o que inclui a biblioteca – esportes, educação integral, e encaminhamento a Universidades e emprego.
É assim que precisamos agir. Educação e bibliotecas tirarão o Brasil do atoleiro da desigualdade social em que se encontra.