Marina Manda Lembranças P assei a ceia de Natal na casa da minha filha Alessandra e do meu neto Nuno. E fiquei com eles no domingo. Só às se...
Marina Manda Lembranças
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Foi uma ceia fantástica em que me senti muito acarinhada. Éramos só quatro, a família inteira reunida: eu, a mãe de Nuno, o pai dele e o irmão do pai, ou seja, o tio do Nuno.
Destaco o artigo de Vera Magalhães da sexta-feira, portanto um presente de Natal. Diz ela que o governo Lula vai se conduzindo para ser o de mais mulheres desde a redemocratização. São seis as escolhidas até agora.
Um avanço gigante frente ao governo Bolsonaro, que só falava bem de mulher quando falava de Michele, sua esposa. No mais, falava mal das mulheres, e cometeu uma gafe diplomática ao dizer que as imigrantes venezuelanas estavam se arrumando para um “programa”.
Vera destaca um nome, o de Nísia Trindade, primeira mulher a ocupar o Ministério da Saúde. Nísia sabe o que fala, porque dirigente da Fiocruz, estava à frente do enfrentamento da pandemia.
Comento uma crônica de Agualusa. Vocês devem estar notando que me identifico com o modo de pensar de José Eduardo. Pensamos algumas coisas da mesma forma, só algumas.
Belchior ofereceu ouro a Jesus menino. Diz Agualusa que Belchior além de ser um dos Reis Magos, jazia jus ao nome. Portanto sabia que naquela manjedoura jazia um perigoso subversivo, “um comunista genuíno”, portanto um erro dar ouro a quem desprezaria todos os bens materiais.
Já Baltazar levou mirra. Agualusa, diz que quando aprendeu a ler consultou um dicionário à procura do verbete mirra, e não encontrou esse verbete, ou quando encontrou não dava resultado convincente. Eu, ao contrário de Agualusa, encontrei o verbete, mas só do dicionário italiano, nem no Houaiss nem no Aurélio, encontrei o significado de mirra.
Mirra é uma goma que sai da casca de algumas plantas da Ásia e da África, portanto uma resina. Adstringente e antisséptica é usada em perfumaria e em farmácias.
“Até hoje não me parece algo que Jesus pudesse apreciar. Nem a mãe dele, nem sequer o padrasto.”
Melchior ofereceu incenso. Eis uma coisa que a mãe de Jesus haveria de gostar, para perfumar a casinha onde, grávida, tinha ido se instalar e parido o bebê que esperava.
Também eu gostaria de ganhar incenso. Que compro, com cheiro de rosas ou de resina, para perfumar meu apartamento.
Os teólogos asseguram que os Reis Magos não entregaram a Maria e a São José, adultos responsáveis pelo bebê Jesus, bens materiais, mas ofereceram metáforas. Ouro significando a realeza de Jesus, mirra a sua humanidade, e incenso a sua divindade.
Diz Agualusa: “O problema é que (...) a maioria das pessoas vem trocando bens matérias no Natal (...). Talvez porque seja muito mais difícil oferecer boas metáforas”.
Eu disse uma vez, numa entrevista, que me ajoelhava diante de uma boa metáfora.
A metáfora é uma joia literária que ilumina um poema e um texto em prosa. Várias metáforas boas dão luz a um romance. E dão vontade de lê-lo.
Eu costumo usar muitas metáforas quando escrevo. Nos minicontos e nos contos maravilhosos. Inútil falar de poesia, porque poesia só vive quando se alimenta de metáforas. Os contos maravilhosos são simbólicos e o símbolo tem uma perna metida na metáfora.