Marina Manda Lembranças E m janeiro do ano passado uma mulher de 33 anos, foi assassinada pelo ex-companheiro com quem viveu durante 13 ano...
Marina Manda Lembranças
Em janeiro do ano passado uma mulher de 33 anos, foi assassinada pelo ex-companheiro com quem viveu durante 13 anos. Foi amarrada, torturada e carbonizada dentro do porta-malas de um carro, na Baixada Fluminense.
Lendo essa notícia sinistra, lembrei-me de um caso que aconteceu na estrada que leva à minha casa de montanha, em Mury, justo na esquina. Nesse caso, a mulher não foi torturada, levou um tiro do ex-marido, com quem tinha não sei quantos filhos, e foi carbonizada dentro do próprio carro. Era uma cuidadora e estava indo, mais adiante, cuidar de uma paciente. Tudo isso porque queria se separar.
As mulheres não têm o direito de se separar, nem se o homem é violento – como o da Baixada Fluminense, que batia nas crianças e na companheira – nem se o marido a proíbe de trabalhar, nem se o homem mantem a mulher em cárcere privado, nem se o homem tem o hábito de trair a mulher.
Se ela quiser se separar, corre o risco de levar um tiro. Isso se deve ao ciúme por um amante imaginário, por um namorado igualmente saído de sonho. Mas, sobretudo, ao sentimento de incompetência. O homem não foi competente para satisfazer sexualmente aquela mulher, por isso ela quer se separar. Esse é um sentimento que o homem não suporta. Todos criados para serem “imbrochaveis“.
Quatro mulheres são assassinadas por dia no Brasil. Só pelo fato de serem mulheres, ódio às mulheres, misoginia, aversão ao contato sexual com mulheres. Alguma coisa tinha que ser feita. E em 7 de agosto de 2006 apareceu a Lei Maria da Penha.
Maria era farmacêutica, do Ceará. No ano de1983 o marido tentou matá-la com um tiro, depois de muitos socos na cara e agressões de toda espécie a ela e às três filhas. Maria sobreviveu, mas ficou paraplégica. Depois de voltar para casa, o marido novamente tentou assassiná-la, não lhe deu um tiro, que tinha se revelado insuficiente, tentou eletrocutá-la. Novamente Maria ficou viva.
Em 1994, ela lançou um livro: “Sobrevivi.... posso contar”. Com a divulgação dele, Maria pode alcançar entidades internacionais. Quando em 2002 o caso dela foi solucionado, o Brasil foi obrigado a reformular suas leis concernentes a violência doméstica. Quatro anos depois, foi promulgada a Lei Maria da Penha.
O assassinato que envolver violência doméstica ou discriminação de gênero vai ter pena de 12 a 30 anos de cadeia. No homicídio simples, a pena vai de 6 a 20 anos.
“Atuamos em duas frentes : – diz o governador Cláudio Castro, que criou as Secretaria estadual da Mulher – a punitiva (...) e a educativa, que visa justamente a conscientizar a sociedade a fim de coibir a invasão do direito do outro, atingindo a segurança emocional ou física das mulheres”.
Erro crasso! A educativa deveria atingir sobretudo as escolas, ensinando às crianças – sobretudo ao futuros homens – que não devem discriminar as mulheres, elas tem inteligência para trabalhar em qualquer posto que quiserem, como Magdalena Andersson, primeira mulher a assumir a presidência da Suécia. E talento para serem artistas, músicas, cantoras, enfim, o que lhe der vontade de ser.
Desde sábado até segunda-feira três mulheres foram vítimas de feminicídio, todas elas no Rio. Uma idosa de 74 anos, Helena Maria da Costa foi morta, no sábado, por um homem que estava hospedado na sua casa, no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. No domingo, Carmem Dias da Silva, foi atacada e morta, com golpes de faca e cacos de vidro pelo namorado, na Rocinha. Segunda-feira, houve outro assassinato na mesma favela, Daniela Soares, levou um tiro na cama, pelo ex-companheiro. Ela queria se separar.