Marina Manda Lembranças N ão gosto de Inteligência artificial. Em compensação sou vidrada em uma brilhante e construtiva inteligência do s...
Marina Manda Lembranças
Isso posto, sou obrigada a dizer que li, no sábado, uma entrevista com um robô:
– Então você pode, por exemplo, escrever ficção?
– Sim, posso escrever ficção com base nas informações e sugestões que recebo. Isso inclui a capacidade de histórias, romances e outras formas de ficção. No entanto, é importante notar que a qualidade e a criatividade da ficção que eu gerar dependerão do input e das sugestões que me forem dadas, bem como da configuração específica do modelo.
Eu nasci de um único modelo. E minhas histórias dependem da minha imaginação, filtrada através da seda leve das palavras. O que gera o meu estilo. Todo escritor tem seu estilo, ainda que tenha se inspirado no estilo de outro escritor.
– Uma obra sua poderia ser considerada original?
– Embora eu possa gerar um texto semelhante aos exemplos encontrados em meus dados de treinamento, ele não é um trabalho original, e sim a combinação de padrões e frases dos dados aos quais eu fui exposto. Não posso reivindicar a autoria de nenhum texto que gerei, que é produto dos dados e algoritmos usados para me treinar.
Meus livros, minhas histórias, minhas conferências são absolutamente originais, presente de 85 anos prestando atenção na vida. Meu pai me contava que eu prestava atenção desde bebê, meus olhos circulando e interessada em tudo que mudava. Me contou também, que estando fora no berço por um calor sufocante, atirou num macaco que estava me ameaçando – se estava me ameaçando ou não é outra história – o fato é que atirou, o estampido do tiro deve ter ficado na minha memória auditiva até agora. Quando ouço um tiro disparado na favela ao lado volta, ao meu inconsciente, o tiro disparado por meu pai.
– Você diz às pessoas que não é um ente consciente. Você tem alguma forma de conhecimento sobre sua própria existência?
– Eu sou um modelo de aprendizado de máquina e não tenho consciência ou autoconsciência. Sou capaz de processar e gerar textos com base nos padrões nos dados nos quais fui treinado, mas não tenho a capacidade de experimentar ou perceber o mundo.
Eu experimento o mundo, e reflito sobre o mundo em que me foi dado viver. Há muitas modificações em curso. Uma das principais é a IA. Tem um robô na novela Travessia, que está 'roubando' a gorjeta dos outros garçons. É isso o que a IA faz, rouba os empregos de mulheres e homens.
Na indústria é muito mais barato ter máquinas trabalhando do que seres humanos, e dá mais lucro. A indústria é dona do mundo assim como a economia.
Eu percebo o mundo, isso faz parte da minha experiência. Andei muito por este mundo. Isto faz parte da minha história de vida, viajei como repórter, depois como escritora, indo para congressos e para conferências. Viajar foi meu destino – se é que existe esta coisa que chamamos destino.
A IA é a atividade do momento. Três livros acabam de ser lançados, cada qual refletindo de forma diferente sobre a IA.
O do americano denuncia que a inteligência artificial vem sendo desenvolvida para imitar o pensamento atual da sensibilidade humana, baseado na dominação da natureza.
A da cientista belga imagina como seria uma tecnologia que penetrasse no que as outras criaturas tem a nos dizer.
Em outro livro, a pesquisadora americana prova que as plantas tem um complexo sistema subterrâneo através do qual trocam nutrientes e se comunicam por fungos.