Marina Manda Lembranças L endo numa entrevista de Vincent Cassel que ele havia participado do filme “Os três mosqueteiros” d...
Marina Manda Lembranças
O filme é excelente e os cenários, os palácios antigos são de botar o sol na alma. Um jardim visto do alto, cercado de arcadas, é inesquecível.
– Um ator não pode ter medo do ridículo.
Diz Vincent em sua entrevista. Mas, no filme, faz papel de Athos, que não tem ridículo algum. É um nome aprisionado, porque estava bêbedo e não se lembra de ter apunhalado uma mulher que estava deitada na cama ao seu lado. Pelo sim, pelo não, se confessa, e é condenado a ser decapitado com a espada. Os plebeus são decapitados pela guilhotina, mas os nobres decapitados pelo fio da espada. Isso é dito no filme pelo juiz que assina a sentença.
Parece um privilégio e não é. A doença ou o fio da espada de que vai morrer pouco interessa. O que mais interessa é a Morte.
Se li “Os três mosqueteiros” foi na infância e já esqueci quase tudo. O nome do Cardel Richelieu que arquitetava matar o Rei que mandou apunhalar a mulher ao lado de Athos na cama, para tirar o nobre de cena porque ele havia jurado vigilar sempre o Rei, não esqueci. Nem esqueci o nome de Constance.
Constance tem um papel fundamental no livro, porque transite a d’Artagnan o recado da Rainha Ana de ir a Londres buscar o colar de diamantes que ela havia dado ao Duque de Buckinham, porque não queria trair o Rei Luís XIII.
A vilã da história é Milady de Winter.
Cassel diz na entrevista, respondendo à pergunta: “Há momentos em que se perde nessa busca?” (da personagem).
– Nunca. Jamais me perderei no personagem. Sei onde termina o trabalho e começa a minha vida. Posso me perder nela, não no trabalho. Personagens são momentos, não tem essa importância toda. Atores que emburacam nos dramas dos personagens já são perdidos na vida e buscam um jeito de se justificar.
Se quiser ler de novo “Os três mosqueteiros”, porque esqueci tudo, acabei de encontrar fuçando nos meus livros, um exemplar traduzido pelo poeta e ensaísta Fernando Py.
Publicado pela primeira vez no diário parisiense La Presse entre março e junho de 1844, nasceu folhetim. O contexto é o da França do século XVII, a trama começa a ser contada em 1648, no fim da Guerra dos Trinta Anos. Os huguenotes era os protestantes da França, por isso tem tanto conluio no filme sobre os protestantes.
Milady de Winter, não é nomeada no filme, nem acaba pondo um passo em falso ou suicida. Os mosqueteiros acabam participando do cerco de La Rochelle, mas fracassam em tentar salvar a vida do duque, ele sendo assassinado por Milady.
Eu não sabia, porque sou ignorante, que Alexandre Dumas havia escrito “O conde de Monte Cristo”. É um dos meus livros favoritos da juventude.
Agora me apressei em ler “Os três mosqueteiros”, cujo prefácio, do próprio Dumas diz, “há mais ou menos um ano, fazendo pesquisas na Biblioteca Real para a minha história sobre Luís XIV, dei por acaso com as Memórias do Sr. d’Artagnan, impressas – como a maioria das obras daquele tempo, quando os escritores se empenham em dizer a verdade sem passar um período mais ou menos longo na Bastilha – em Amsterdã, da firma de Pierre Rougé. O título me seduziu; levei-as para casa, é evidente que com a permissão do Sr. Conservador, e as devorei.”
É evidentemente uma fake news. Porque Dumas tirava tudo da sua imaginação fantástica, e não é possível que achasse o nome de Athos, numa página qualquer de um documento, e nas seguintes o nome de Porthos e o de Aramis.