Marina Manda Lembranças E stou lendo um livro da apresentadora Xinran, o nome dela soa estranho aos nossos ouvidos porque é chinês. Durante...
Marina Manda Lembranças
A primeira carta de que me atrevo a falar é Hongxue (os nomes foram alterados, a fim de proteger as pessoas). Aos onze anos, passa a viver a pressão sexual do pai. Ali o pai é transferido para outra base militar, e a mãe não pode acompanha-lo por causa do seu trabalho e manda os filhos morar com o pai.
Diz Hongxue 'Meu corpo, que ganhava formas rapidamente, o deixava cada vez mais excitado, enquanto eu me sentia mais e mais aterrorizada'.
Mais de dois anos mais tarde, a mãe consegue uma transferência no emprego e vai morar com a família. 'Eu não aguentava mais e contei a verdade à minha mãe. Vi que ela ficou terrivelmente perturbada. Mas poucas horas depois, a minha "sensata" mãe me disse: ' Pela segurança da família toda, você vai ter que suportar isso. Caso contrário, o que é que nós todos vamos fazer?'
'Naquela noite minha temperatura chegou a quarenta graus. Fui novamente trazida ao hospital, onde continuo até agora. Simplesmente desmaiei, porque tinha tido um colapso cardíaco'.
'Como estou feliz hoje! Novamente consegui o que queria: estou de volta ao hospital. Desta vez não foi muito difícil.'
'Mas as moscas entram na minha vida. Resolvi ter um filhote de mosca como animal de estimação. Sim decidi encontrar um filhote de mosca e mantê-lo no meu mosquiteiro'.
'É muito difícil encontrar um filhote de mosca'.
'Estou muito cansada, muitíssimo cansada.'
'Dois dias atrás eu finalmente apanhei um filhote de mosca. É muito pequeno.'
'Estava lutando contra uma teia de aranha, cobri a mosca e a teia com um saco que fiz com uma máscara de gaze e levei para o meu quarto. Depois abri o saco bem devagarinho, e entre as fibras de gaze a mosquinha podia se mover livremente.'
'Achei que ela devia estar muito cansada e com fome. Então corri até a sala dos funcionários, roubei um pedacinho de gaze e derramei nele um pouco da solução de glicose. Depois corri até a cozinha e peguei um pedaço de carne. Quando voltei para o mosquiteiro, a mosquinha não parecia ter saído do lugar. Batia debilmente as asas minúsculas, parecia faminta e cansada. Pus a carne em cima da gaze com glicose e empurrei-a com cuidado para a mosquinha'.
'Enquanto eu delirava, não pude cuidar da minha mosquinha e alguém pôs em cima da minha mesa-de-cabeceira umas coisas que a esmagaram dentro do saco de gaze. Foi encontrá-la mas, quando achei, o corpo minúsculo já estava ressecado'.
'Pobre mosquinha. Morreu sem nunca ter crescido'.
'Eu estava chorando porque meu filhote de mosca morreu'.
'Tenho só dezessete anos, mas acho que é uma boa idade para morrer'.
"Tive que parar, porque me senti muito tonta. Levantei para ir ao banheiro e, na volta, bem quando estava prestes a me deitar de novo, vi um par de olhos demoníacos na cabeceira da cama, cravados em mim. Fiquei com tanto medo que gritei e desmaiei. O dr. Liu (o médico que atende ela) disse que delirei pela metade de um dia, gritando o tempo todo sobre moscas, demônios e olhos'.
'Por que é que essa mosca grande entrou zumbindo aqui esta tarde está sempre pousando no desenho que acabei de fazer? Será que ela conhece o filhote que está no desenho?'.
'Vou esmagar a mosca grande em cima do corte no meu braço'. Hongxue havia feito um corte no braço. Ela morrera de septicemia.