Marina Manda Lembranças Q uando cheguei à casa de tia Gabriella Besanzoni, (de quem Mario de Andrade disse que deveria ser ouvida "de j...
Marina Manda Lembranças
Havia uma escadaria importante que levava ao andar de cima (sim porque havia um andar de baixo, alvo da nossa imaginação), que levava à piscina, à sala que se dividia em três salas, a sala aonde treinava a tia Carolina que ia participar de um canto lírico, numa ópera que já esqueci qual era, o ingresso que tinha dois vasões de canto chineses, a primeira sala, e última onde havia somente sofás e poltronas. Mas eu sabia que anteriormente haviam cadeiras distribuídas para presenciar programas canoros, os cantores se programavam ante as cadeiras, o piano tocava. Havia um sistema de entrada e saída do palco, muito bem bolada. Não chegamos e ver esse sistema, funcionando.
A parte de baixo, sim, detinha a nossa atenção. Quando a tia tocava a campainha chamando a fiel empregada, Wanda, que reverberava na casa toda, eu e meu irmão mergulhávamos na piscina. Uma vez vimos nossa mãe nadando.
Agarramos a situação de propósito, esperamos que se lavasse a piscina e descemos com vassoura em punho, para limpar junto aos empregados.
Gostávamos mais da parte de baixo. Primeiro porque havia cozinha onde, eu na infância, ia buscar um prato de feijão com arroz, e os adultos quando tinham fome e o almoço estava demorando a ser servido, vinham despertar a fome com um filé feito na chapa.
Segundo porque tinha um cofre no fundo do corredor, onde dormiam os empregados.
Terceiro porque havia um quarto onde se dançava e cantava, e que durante o dia era ocupado pelas costureiras (sempre fixas, precisava-se de costureiras sempre disponíveis naquela casa). Havia de ter na temporada da ópera, uma preocupava-se, outra previa outra coisa. Era um tal de mulheres precisando de costureiras que as costureiras mal podiam aguentar.
Quarto, porque diante daquele quarto, aonde se dançava e cantava, íamos jogar ping-pong com o motorista da tia Gabriela que ganhava todas as partidas (embora com os dois juntos) porque tia saia pouco. Às vezes para ir aos destiles da Casa Canadá, os cabelos pintava com sua empregada, Wanda, e pintava só de vez quando, (lembro de ver a sua raiz branca) era velha, não quisesse reconhecer, embora não quisesse nem ouvir talar.
Quinto porque havia um quarto das maravilha, onde estavam os trajes de cena da tia.