Marina Manda Lembranças C omo era transparente o mar Adriático da minha infância. Íamos sentados dois flutuantes em que se apoiavam um par d...
Marina Manda Lembranças
Como era transparente o mar Adriático da minha infância. Íamos sentados dois flutuantes em que se apoiavam um par de bancos. E assim remávamos.
Tinha o “scanno uno” e “scanno” dois. Que clara era água, podíamos andar por eles sem perigo, perigo nenhum.
Quando se punha furioso, porém fugíamos dele. As ondas remexiam no fundo pouco profundo, e traziam areia do mar adentro.
Votei para Porto Sangiorgio com Affonso encontrei o povoado destruído pela guerra. O dono do Hotel onde a gente se hospedava nas férias tinha partido para outro mundo, ou seja tinha morrido. A criança que eu tinha brincado na infância tinha-se casado, tinha se mudado para outra cidade.
Cheguei a Lega Navale, o clube onde a gente se refugiava nas férias, completamente desfeito.
Tive uma infância muito feliz, mesmo. A partir do momento em que governo o pé colonizador estava fincado. Dentro do espírito todo parece da época, tudo parece muito justo e digno. A Itália quase a última a entrar na divisão das terras extraeuropeias.
Há anos não deixo cair uma caneta, mas as mãos infantis são mais apressadas, eu ganhei esta caneta quando era criança.
Não deve ter sido nela que eu escrevi no caderno marrom. A letra cuidada, sem rasuras, me dizem que fazia rascunho, as letras maiúsculas iniciando os versos. Assinava embaixo.
Passado alguns meses, incrementei as páginas com uma pequena ilustração posta ao pé.
Embora minha avó que veio ao Brasil na década de 20, me contava surpreendentes, falava de mantas de carne penduradas ao sol diante das portas das vendas, dizia de insetos.
E fez questão de me fornecer um conhecimento útil. Quando chegar ao Brasil, certamente vai querer tomar um suco de laranja. Eles vão te perguntar: ‘Com casca ou sem casca?’, você responda ‘Sem casca’, porque senão, com a casca, fica muito amargo.
Decorei a lição aplicadamente, já não seria tão estrangeira.
Mas o cuidado foi inútil; por mais que eu a esperasse ninguém no Brasil me fez a única pergunta para a qual eu havia me preparado com tanto sacrifício.
E um dia, para satisfazê-lo, antecipado a viagem que demorava a se concretizar, nossa mãe nos trouxe exatas duas bananas.
Depois de tantos ausência devido à guerra, a fruta tropical por excelência voltava à Itália caríssima, um luxo.
Sentados dois no dois (estou falando do meu irmão) no quarto da nossa avó, empunhávamos as duas bananas como um troféu, o amarelo suave impondo um toque de luz na penumbra.
As descascamos lentamente, as comemos mais lentamente ainda.